Medicamentos para insônia podem causar dependência maior que crack e cocaína, alerta psiquiatra

Uso indiscriminado deve ser tratado como questão de saúde pública

A insônia é um dos transtornos de sono mais comuns da atualidade e, em muitos casos, acaba sendo tratada de forma inadequada com benzodiazepínicos (BZD) ou os chamados “Z-compostos”, como o zolpidem. Embora amplamente prescritos, esses medicamentos apresentam alto risco de dependência, em alguns casos, com uso maior até do que drogas ilícitas como crack e cocaína (segundo dados do Levantamento Nacional de Álcool e Drogas), e podem levar a complicações graves, como convulsões, síndrome de abstinência, distúrbios de memória e até tentativas de suicídio

Segundo a médica psiquiatra Dra. Alessandra Diehl, da Bem Viver Psiquiatria, o quadro é preocupante e há cada vez mais pacientes internados em clínicas por complicações do uso abusivo de zolpidem e benzodiazepínicos. “Há uma banalização tão grande que o zolpidem chegou a virar meme e até parte da cultura pop, o que mascara os sérios riscos envolvidos. Esses medicamentos podem causar dependência rapidamente e, quando usados de forma recreativa, em baladas, por exemplo, os efeitos são ainda mais perigosos”, alerta.

Dependência que vai além do consultório

Dados internacionais mostram que 30,6 milhões de adultos relataram uso de benzodiazepínicos em apenas um ano, sendo 5,3 milhões de forma indevida. No Brasil, o cenário não é diferente: pacientes procuram tratamento após anos de uso contínuo, acreditando não conseguir dormir sem esses “remédios abençoados”. A Anvisa estima que, anualmente, são comercializadas no país mais de 20 milhões de caixas de Zolpidem.

Diehl explica que, além da dependência química, há sintomas severos de abstinência como fraqueza, ansiedade, insônia de rebote, convulsões, delírios e até risco de morte podem aparecer quando a interrupção é abrupta. “É necessário tratar da forma correta as morbidades, como a insônia e cuidar com o uso desses medicamentos. Muitos usuários relatam uso contínuo por meses ou anos, apesar de a recomendação ser de no máximo quatro semanas. Por isso, reforçamos a necessidade de cautela, acompanhamento médico e, em casos mais graves, internação para retirada segura dessas substâncias”, pontua.

O CEO do Grupo Bem Viver, Átila Leão de Mello, aponta que desde 2024 esses medicamentos passaram a ser receita azul, mais controlada, e que isso veio como  uma medida de saúde pública, que já repercutiu em outros países, com a diminuição da demanda de uso. “Esperamos que aqui no Brasil seja semelhante. De acordo com estudos da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), 72% dos brasileiros sofrem de doenças relacionadas ao sono, entre elas, a insônia. Por isso, é um assunto que precisamos discutir porque é de saúde pública”, afirma.

Novo medicamento aprovado pela Anvisa

Um avanço importante foi a recente aprovação pela Anvisa do Lemborexant, medicamento eleito pela Universidade de Oxford como um dos mais eficazes para o tratamento da insônia. Diferente dos BZD e Z-compostos, o Lemborexant atua como antagonista da orexina (neurotransmissor que regula a vigília) e se apresenta como alternativa mais segura, sem os efeitos de tolerância e dependência que marcam as drogas tradicionais. “O Lemborexant representa uma mudança de paradigma no tratamento da insônia, já que combina eficácia com um perfil de segurança mais favorável. Porém, é fundamental lembrar que nenhum remédio substitui a necessidade de investigar e tratar a causa real do problema, seja ela depressão, ansiedade ou outro transtorno associado”, reforça a psiquiatra Alessandra Diehl.

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