Há cerca de um ano, a tubaronense Barbara Zandomenico Perito tem sofrido com as consequências de uma fake news propagada pelo ex-companheiro italiano Nunzio Bevilacqua, advogado e empresário com negócios no Brasil. Ela foi acusada por ele de participar de uma suposta seita que engravidava mulheres para extorquir cidadãos italianos para lucro com pensões alimentícias.
Na época, Nunzio foi à imprensa da Itália dizer que a gravidez da ex-companheira seria fruto de orgias e ritos satânicos. O caso, com a versão de Barbara, veio à tona em rede nacional no domingo, dia 11, no programa Fantástico, da Rede Globo. E desde que a matéria foi ao ar, ela tem recebido mensagens de solidariedade. “Estou recebendo mensagens no Instagram e no e-mail de muita gente falando que tudo isso é um absurdo”, diz ela, que é professora de italiano e português.
Barbara conta que descobriu sobre a fake news em abril do ano passado. “Foi um choque para toda a minha família naquela época, assim como foi um choque para todo mundo que soube agora. A gente leva um tempo para entender o que está acontecendo e, quando descobri, já existiam muitas matérias na internet”, relata.
De acordo com a tubaronense, atualmente há mais de 105 links originais abordando o caso. “Isso sem contar as replicações. Na época que descobri, já tinha cerca de 20 originais, então, era muita matéria. Já era um absurdo, imagina agora”.
Apoio familiar
Barbara diz que teve total apoio da família, desde a gravidez até a repercussão de toda a história. “Quando engravidei, ele já mostrava esses comportamentos abusivos. Aí veio todo esse caso e passar por tudo isso foi e está sendo ainda muito difícil. Minha família sempre me apoiou”, acrescenta.
Italiano criou narrativa mentirosa para imprensa
Barbara é descendente de italianos e dá aulas do idioma para brasileiros. O italiano Nunzio Bevilacqua se matriculou e, cinco meses depois, a relação entre os dois começou a ficar pessoal. Após uma viagem com ele pelo Brasil, Barbara fez o teste de gravidez. “Deu positivo e ele ficou superfeliz”. Mas Nunzio voltou para Roma e, de lá, insistia que Barbara fosse atrás dele. Eles começaram a se afastar durante a gestação.
“Um dia, ele ligou perguntando se tudo bem se não participasse da criação dela, não registrasse e não ajudasse financeiramente. Eu falei: ‘Isso não está certo. A gente precisa registrar, acertar convivência e pensão’.”
A criança nasceu dois meses depois, em julho de 2022. Nos dias seguintes, Nunzio quis fazer teste de DNA em São Paulo. Segundo um ex-advogado dele, o local foi escolhido pelo próprio empresário. O exame confirmou a paternidade e ele pediu um segundo teste, que foi negado pela Justiça.
Foi o que bastou para Nunzio começar a espalhar a história que a Rai (emissora de TV italiana) acabaria contando no ano passado. O italiano disse para a imprensa do país que havia uma organização criminosa no Brasil com o objetivo de enganar homens europeus para extorquir dinheiro. Nunzio envolveu no roteiro membros do Ministério Público de Santa Catarina, grupos religiosos, médicos, políticos e até familiares de Barbara. Ela e a filha, de três anos, vivem hoje sem nenhuma ajuda de Nunzio.
Mídia italiana
Em fevereiro deste ano, muitas pessoas tiveram acesso à reportagem feita pela TV italiana e a história veio à tona e viralizou. “A RAI (emissora que colocou a matéria no ar) e nenhum outro canal de mídia italiana me procuraram, porque existe a Identità, que é on-line – a maior fonte dessas informações, e o próprio La Republica, um dos maiores jornais da Itália, tem publicação impressa. Nunca me ligaram, não averiguaram. Apenas fizeram a matéria para o Nunzio”, conta. Segundo ela, o ex-companheiro acabou envolvendo na história muitas pessoas da convivência de Barbara. “Tudo o que eu colocava na internet, ou que minha família postava, era trazido para dentro dessa narrativa criada por ele. Então, era bem difícil. Hoje, estou há quase um ano convivendo com isso e me acostumei”.
Diário do SUl
