Cerca de 250 estudantes do Programa Jovem Aprendiz do SENAC participaram, nesta semana, de uma tarde de reflexão promovida pelo projeto “Noca na Escola”. A iniciativa busca resgatar a memória da negritude em nossa região, compartilhando conhecimentos para combater o racismo. A atividade, alusiva ao mês em que se celebra o Dia da Consciência Negra, reuniu um coletivo de artistas com música, poesia, artes plásticas, moda e informações históricas.
A produtora cultural do projeto, Gesislane Botelho, conhecida como Gesis, destacou que a experiência foi significativa, ainda que com características diferentes das realizadas na semana passada no Balneário Rincão. “São jovens, pessoas que estão entrando no mercado de trabalho. É importante porque promove o respeito à diversidade e pode prevenir situações como brincadeiras infelizes que levem a punições no ambiente de trabalho ou até problemas com a justiça”, comentou Gesis.
Nesta edição, o projeto trouxe a novidade da participação das artistas plásticas Brisa Azambuja e Brisabel Pereira Azambuja, com uma exposição de esculturas “Liberte-se”, e das escritoras Paula Sandra Alves Silva e Maya Alves Silva, esta última com apenas 9 anos de idade. Também houve exposições sobre roupas e tecidos africanos, a presença de Negro Ed (Edgar de Oliveira Dias) e Marone Falasha, que falaram de música e o racismo; o hip hop com Jhonatas Reis; uma palestra sobre o continente africano com o togolês Thierry Appoh, declamações de poesia com a professora Edilaine Leonor; voz e violão com a dupla Rafael e Rodrigo e discussões sobre a história das tranças e relatos pessoais dos participantes.
Gesis destacou que a experiência colocou lado a lado duas gerações distintas: Maria Leia dos Santos Botelho, de 71 anos, filha da professora Dona Noca, e Maya, a jovem escritora de apenas 9 anos que vem enfrentando os desafios da discriminação racial. “Foi interessante observar o comparativo entre as histórias de infância das duas. Antigamente, os problemas relacionados ao racismo eram resolvidos com agressão, enquanto hoje são crimes previstos em lei, com punições”, analisou.
Maya compartilhou que, após a denúncia de um professor que alertou os pais sobre episódios de racismo que vinha sofrendo na escola, recebeu suporte e acompanhamento. “Embora a natureza do problema seja a mesma, as realidades e as formas de lidar com ele são diferentes”, explicou Gesis.
Além disso, o projeto contou com a colaboração de Yasmin Botelho de Souza e Alexandra Machado.
*Sobre Dona Noca*
A primeira professora do Balneário Rincão, Joana Rosa dos Santos, ou simplesmente, Dona Noca, nasceu em 1916, e é filha dos escravos alforriados Francisco da Rosa e Feliciana, que vieram do continente africano e moraram na Terceira Linha. Eles tiveram 10 filhos, seis filhos foram professores e defendeu o estudo como forma de transformação de vida.
Noca foi criada em meio às crianças brancas e aprendeu a falar italiano. Pela Educação a professora ganhou destaque na sociedade na década de 40 e 50. Dava aula na Escola no bairro Sanga Funda, onde também morava. Sua casa foi incendiada, forçando a transferência para o Balneário Rincão, que na época pertencia a Criciúma. Figura pioneira na educação local, enfrentou o contexto de segregação racial, e o papel desafiador de ser mulher e mãe de seis filhos.
Teve um casamento inter-racial com Antonio José dos Santos, conhecido como seu Nico. Foi líder e defensora da igualdade e da educação para todos. “O estudo mudou a nossa vida”, afirmou a filha Maria Leia, que sempre incentiva os alunos a continuarem os estudos e acreditarem na realização dos sonhos, frisando a honestidade.
Por Antonio Rozeng