Na Comissão Mista da Alesc, perícia aponta principal causa que levou ao desastre no Monte Cristo

Nesta terça-feira, 21 de novembro, a Comissão Mista da Alesc criada para apurar o rompimento do reservatório da Casan, no Monte Cristo, em Florianópolis, recebeu o superintendente regional da Polícia Científica em Florianópolis, Cassiano Mozar Fachinello Bremme. 

 A Polícia Científica realizou três tipos de perícias no local do acidente: uma sobre os possíveis danos ambientais; um segundo exame para avaliar o dano patrimonial; e laudo na área de engenharia civil (parede rompida do reservatório). Com relação a este terceiro, a perícia não encontrou falha evidente no projeto, mas identificou falha na execução e erro na fiscalização da obra.

As investigações apontaram divergências entre o projeto estrutural e a obra executada, sendo que três delas confirmam o que a Comissão já apontou anteriormente, a partir da análise de relatório interno elaborado pela própria CASAN.

– estribos com diâmetro divergentes do projeto: o projeto estrutural previa estribos de 10 mm de diâmetro posicionados a cada 20 cm na região intermediária do pilar. No entanto, os estribos encontrados no local eram de 5,0 mm de diâmetro espaçados em 20 cm, o que corresponde a 1/4 da resistência projetada.

– barras do pilar inadequadamente posicionadas: o projeto estrutural previa 13 barras de 25 mm a serem posicionadas na face externa do pilar, na região de intersecção entre o pilar e a parede. No local do colapso constatou-se que as barras não estavam posicionadas conforme indicado no projeto;

– armadura adicional de ligação pilar-parede ausente: não foram encontrados indícios de execução de armadura adicional de diâmetro de 16 mm espaçada a cada 15 cm.

De acordo com Cassiano, no local foram encontrados oito barras, mas outras cinco, que constavam no projeto, a perícia não conseguiu identificar ou por não existirem na estrutura ou por estarem dentro do pilar. “É possível garantir que existem oito barras, mas estão deslocadas da área do projeto”.

Para a perícia, o motivo principal do desastre está relacionado ao aço. “As causas principais são as armaduras que, ou não foram executadas, foram mal posicionadas ou executadas da forma errada, com bitola menor, uma quantidade menor e com espaçamento maior, o que acarreta em menos material. Especificamente esse problema com o aço propiciou que as paredes descolassem dos pilares, ocasionando a ruína que nós vimos”, explicou o superintendente regional da Polícia Científica em Florianópolis, Cassiano Mozar Fachinello Bremme.

Além disso, durante o encontro, o relator da Comissão, deputado estadual Mário Motta (PSD) apresentou dados inéditos sobre a qualidade do concreto utilizado no reservatório. De acordo com as análises, inseridas no inquérito civil, que tramita na 29ª Procuradoria de Justiça da Capital (MPSC), 70% das amostras extraídas do reservatório não atingiram a resistência projetada de 30 mega pascal. Especificamente sobre a parede colapsada (parede sul), das quatro amostras extraídas, três apresentaram resistência abaixo da projetada.

Segundo o perito ouvido na reunião, apesar de grave, este não foi o fator determinante. “Entendemos que o concreto em si, mesmo com resistência mais baixa, não é o causador do rompimento, mas sim a armadura”, reforçou Cassiano.

Para o relator, deputado Mário Motta, as informações da Polícia Científica são fundamentais para o entendimento do acidente, mas outras participações ainda são esperadas para a identificação do que levou ao rompimento. ” Nós ainda dependemos de outras oitivas, como da própria empresa Gomes & Gomes que deve estar presente em reunião da Comissão. A própria empresa deve estar interessada em comparecer e responder a dúvidas sobre a execução da obra”.

O representante da Agência de Regulação de Serviços Públicos de Santa Catarina (Aresc), que também era aguardado nesta oitiva, não compareceu à reunião.

Próximas reuniões

No dia 28 de novembro, o diretor-presidente da Companhia Catarinense de Águas e Saneamento (Casan), Edson Moritz Martins da Silva, será novamente convidado a comparecer para prestar os últimos esclarecimentos. Também serão chamados representantes da comunidade do Monte Cristo e do Movimento de Atingidos por Barragens – MAB.

Deve ser definida ainda data para a participação de profissionais da Construtora Gomes & Gomes Ltda., responsável pela obra do reservatório.

A Comissão

Criada no dia 11 de outubro, a Comissão Mista é composta pelos deputados Ivan Naatz (PL), presidente; Marquito (Psol), vice-presidente; Mário Motta (PSD), relator; e pelos deputados Maurício Peixer (PL) e Lunelli (MDB) como membros.

A Comissão é formada por parlamentares da Comissão de Trabalho, Administração e Serviço Público e da Comissão de Turismo e Meio Ambiente e tem um prazo oficial de 60 dias para concluir os trabalhos.

Claudia Xavier

Assessora de Comunicação

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