O Cânion das Laranjeiras, localizado em Bom Jardim da Serra, está na lista dos lugares conhecidos por muitos trilheiros da região sul de Santa Catarina. Neste sábado nublado, dia 30, um grupo de Criciúma, Siderópolis e Urussanga organizou uma excursão para contemplar e conferir de perto esta maravilha da natureza e atualizar a lista dos pontos turísticos que o grupo já teve o privilégio de visitar.
Há dois pontos distintos para o início da trilha, ambos estão localizados a aproximadamente 12 quilômetros do centro da cidade e são percorridos por estrada de chão. Os interessados podem escolher a Fazenda Rincão da Palha, pelo lado norte, ou a Fazenda Santa Cândida, pelo lado sul. Estas propriedades são particulares pois os donos das terras ainda não foram indenizados. “Escolhemos ir pelo lado sul. Não é preciso agendar. Pagamos vinte reais por pessoa para acessar a Fazenda Santa Cândida e a trilha que nos conduziu até o Cânion. A caminhada é de aproximadamente cinco quilômetros e não necessita de acompanhamento de guia”, comentou o organizador da atividade, Bill De Nez.
A viração, termo usado pela população local para se referir ao fenômeno atmosférico da serração, atrapalhou a observação dos penhascos verticais e das fendas impressionantes do cânion. Mas, os aventureiros experimentaram as sensações de estar dentro de um cenário inebriante, enfeitado com araucárias e cheio de plantas nativas floridas, enquanto ouviam os sons da natureza, como a queda d’ água de uma cachoeira e o cantarolar dos pássaros da fauna local.
Foram aproximadamente duas horas de espera pela abertura da cortina de nuvens que ocultava as misteriosas formações geológicas. Enquanto isso, alguns praticaram yôga, outros gastaram o tempo observando a camuflagem de lagartas sobre as pedras, as gotículas do orvalho alinhadas geometricamente nas teias de aranha e espinhos que brotavam caprichosamente das plantas.
O grupo teve a oportunidade de realizar uma imersão, vivenciar e sentir de perto a cultura local, como na Pousada Laranjeiras Ecoturismo, onde foi servido um almoço típico tropeiro feito em fogão à lenha. Acompanhados pelo proprietário Luiz da Silva, conhecido como Seu Didio, colheram ameixas vermelhas e observaram um pé de feijoa com os frutos verdes. “Esta árvore tem mais de 50 anos, quando criança lembro que meu pai espichava laços feitos do couro do boi amarrando no seu tronco”. Ele também apresentou o local onde as abelhas produzem o mel de chão e com um graveto ensinou a extrair de um ninho de formigas uma substância natural, cujo cheiro lembra vinagre. “Os antigos chamavam essa formiga de Tinaraco e a substância extraída era utilizada no tratamento de sinusite e dor de cabeça”, complementou.
Os trilheiros também visitaram a Fazenda Invernada Grande, onde foram recepcionados pelo proprietário e biólogo Alex Ribeiro Mendes. O grupo visitou o pomar de maçãs da propriedade e realizou uma caminhada às margens do Rio Pelotas. No local há um galpão que preserva as memórias do campo e de um fatídico acidente aéreo que vitimou oito tripulantes da Força Aérea Brasileira em 2011, quando um avião caiu naquelas terras.
Trabalhos como o extrativismo do pinhão, cultivo e colheita da maçã e manejo do gado são algumas das atividades econômicas desenvolvidas na fazenda. “O cultivo da terra não garante uma renda regular, já que muitas culturas são sazonais. Já com o fomento do turismo rural e com as hospedagens, houve uma melhora significativa na qualidade de vida no campo. Estamos iniciando um processo de implantação de um jardim botânico para trabalhar com educação ambiental”, enfatizou Mendes.
O passeio foi encerrado no Empório Aparados da Serra, com muito chocolate quente, pastéis e uma iguaria tipicamente serrana conhecida como empacotado. A cozinheira Raquel Machado patenteou a receita que aprendeu com a tataravó. “Nas lidas de campo ela fazia para servir como prato final para a tropa. É feito com queijo serrano e uma massa especial, frito e servido com açúcar e canela”, explicou Raquel.
O estudante de psicologia, Paulino Acácio Vieira Junior, participou pela primeira vez de uma trilha. Ele afirmou que não colocou expectativas ou idealizou como gostaria que fosse o passeio. “A sensação de estar em um lugar único e viver essa experiência com outras pessoas é algo difícil de explicar. Mas, o que mais me surpreendeu foi a hospitalidade das famílias que nos atenderam nas fazendas e no café, eles contavam as suas histórias de famílias e dos locais ao mesmo tempo que dividiam a sua cultura com tanto entusiasmo que era impossível não se sentir acolhido por eles. Foi algo fora do comum e incrível”, concluiu Vieira.
Ana Lúcia Pintro
Professora Matemática (Criciúma e Cocal do Sul)
Acadêmica de Jornalismo (SATC)