Estava estampado no rosto de cada um dos 12 jovens que concluíram o curso Jovens do Mar da Epagri a emoção de conseguir chegar até a última etapa e concretizar o sonho de empreender nas áreas da pesca e aquicultura.
E não é para menos. Dos 21 inscritos, 16 começaram o curso, mas quatro acabaram desistindo porque não podiam abrir mão da pesca no dia em que o mar estava bom para peixe. Por isso, só o fato de persistirem já era motivo de orgulho.
Resultado que seria impossível sem a atuação empática dos extensionistas, que motivaram os jovens a apostar num futuro melhor, com mais renda e qualidade de vida. A formatura aconteceu no dia 27 de novembro, no auditório da Epagri em Itajaí.
“Tanto a Adriane, quanto a Viviana [extensionistas da Epagri] foram muito mais do que professoras. Elas foram além de suas obrigações profissionais. Não tinha hora nem dia para nos acolher e motivar para seguirmos em frente, apesar das adversidades”, declarou a oradora da turma, a bióloga e pescadora de Balneário Camboriú, Ingrid dos Santos, 27. Ela também agradeceu ao pessoal da cozinha do Centro de Treinamento da Epagri (Cetrei) pelas deliciosas refeições.
“A Adriane chegou a me buscar para eu não desistir. Eu perdi amigos recentemente em um acidente e estava deprimido. Graças a ela, eu não faltei nenhum dia. Sem falar no Anschau, que me deu muitos conselhos, o Alan também”, revelou Nanam Felipe de Melo Souza, 34, pescador artesanal de Navegantes, referindo-se a a outros extensionistas da Epagri. Em sua apresentação do plano de negócio para comprar uma embarcação, o pescador lembrou que estava de aniversário no primeiro dia do curso e foi com surpresa que fizeram um bolo e cantaram parabéns pra ele. “Ali comecei a me sentir em casa”, disse.
Formandos se emocionam com oportunidade para melhorar de vida
Outro que não conseguia esconder a emoção era Augusto Pinto Costa, 27, natural do Pará. Desde o início da cerimônia suas lágrimas rolavam sem freio porque, segundo ele, nunca tivera antes uma oportunidade para melhorar de vida. “Como sou de fora, primeiro quero agradecer aos meus colegas que abriram espaço para poder pescar com eles. E à Epagri, a chance de sonhar em, um dia, fazer minha casinha, abrir uma peixaria e sair do aluguel”, declarou. Ele quer adquirir uma lancha de fibra com motor, legalizar a atividade e como também pesca siri, atividade que aprendeu com a mãe, nativa de um território quilombola, Augusto pretende, no futuro, ensinar seu ofício a turistas, investindo no turismo pedagógico.
A lembrança da mãe de Fabrício Carvalho Waldomiro, 31, de Penha, falecida quando ele era criança, também emocionou o jovem ao apresentar seu plano de negócio. Ele conta que pesca desde os 12 anos e sua intenção é pescar para sempre porque já trabalhou oito anos fora e não gostou nem um pouco. “Nada como ser o próprio patrão”, acredita. Sua esposa, Juliete, já fez o curso Flor-e-Ser Mulheres do Mar e conseguiu comprar a primeira lancha. Agora, ele quer investir num segundo barco para pescar camarão sete barbas.
E para apoiar estes bravos homens e mulheres do mar, estavam presentes no auditório da Estação Experimental de Itajaí (EEI) autoridades municipais, entre prefeitos, vereadores, presidente de colônia de pescadores, o secretário estadual de Aquicultura e Pesca, Thiago Frigo, a extensionista Rose Mary Gerber, representando a diretoria da Epagri, e a suboficial da Marinha, Ana Paula. Todos reforçaram a importância das políticas públicas e parcerias para profissionalizar o setor pesqueiro e de aquicultura, uma força econômica do Estado.
Inovação e trabalho em família na aquicultura
Um dos planos de negócio que mais chamou a atenção do público foi apresentado por Thiago Saccheto dos Santos, 27, natural do estado do Rio de Janeiro. Ele veio estudar aquicultura na Universidade Federal do Paraná e, em busca de empresas que trabalhassem com a alga Kappaphycus Alvarezii, ele encontrou o que queria em Penha, para onde se mudou no início do ano. Em seu projeto “A Nova Maré Verde: sustentabilidade com algas em Penha/SC”, Thiago pretende ter sua própria área de produção deste insumo inovador, que tem aplicação como fertilizante, mas também na indústria farmacêutica e cosmética.
Em Bombinhas, destaque para os irmãos Micael dos Santos Henrique, 25, e Mizael Henrique, 27. Eles bolaram um negócio em família para profissionalizar o cultivo de mariscos, trocando as garrafas pet, que são proibidas pelos órgãos ambientais, por bombonas. E suas esposas, Maisa dos Santos, 24, e Thaiane dos Santos Henrique, 22, fizeram projetos para a compra de uma balsa, o que vai dar melhor qualidade de vida aos maricultores na hora de fazer a colheita. Outra maricultora de Bombinhas, Júlia Jahn de Melo, 29, também fez seu plano de negócio para a compra de uma balsa de fibra.
Os demais formandos que pretendem realizar o sonho do barco próprio são: o pescador Alexandre Almir Machado, 31, de Navegantes, Isaque Lauro de Souza, 17, maricultor de Penha, e Ingrid H. dos Santos, bióloga que pratica a pesca de arrasto na Praia Central de Balneário Camboriú, junto a pescadores nativos.
Por: Renata Rosa, jornalista bolsista da Epagri/Fapesc
