A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) autorizou nesta sexta-feira (10) a produção do primeiro lote de etanol injetável usado como antídoto para intoxicações por metanol. O medicamento será fabricado pela farmacêutica brasileira Cristália, que doará as doses ao Ministério da Saúde.
A decisão ocorre em meio ao avanço dos casos de envenenamento por bebidas adulteradas. Até o momento, o país soma cinco mortes e 29 confirmações de intoxicação, além de mais de 200 casos em investigação.
O diretor-presidente da Anvisa, Leandro Safatle, destacou a importância da parceria com a indústria farmacêutica em situações de emergência. Segundo ele, a colaboração tem permitido agir com rapidez diante da crise de saúde pública.
A fabricação do etanol injetável seguirá padrões técnicos e sanitários definidos pela agência, com validade de até 120 dias. O medicamento é considerado eficaz porque bloqueia a ação da enzima responsável por transformar o metanol em substâncias tóxicas no organismo, como o formaldeído e o ácido fórmico — compostos que podem causar cegueira ou morte mesmo em pequenas doses.
De acordo com a endocrinologista Fernanda Parra, o etanol compete com o metanol pela mesma enzima (álcool desidrogenase), retardando sua metabolização e permitindo que o corpo elimine a substância com menor risco. Em casos graves, o tratamento é complementado com hemodiálise.
Embora o etanol seja uma alternativa viável, o medicamento fomepizol é o antídoto mais indicado em situações críticas, conforme consenso internacional publicado por pesquisadores em 2019. Ele bloqueia de forma mais direta a conversão do metanol em derivados tóxicos.
O aumento de casos no país levou o Ministério da Saúde a reforçar o alerta sobre o consumo de bebidas de procedência duvidosa. Das ocorrências confirmadas, 25 foram registradas em São Paulo, três no Paraná e uma no Rio Grande do Sul. Além das cinco mortes confirmadas, outras 12 estão sob investigação em diferentes estados.
A autorização da Anvisa representa um passo importante no enfrentamento da crise, garantindo o fornecimento emergencial do antídoto enquanto o governo atua para identificar e recolher produtos contaminados no mercado.