Ana Clara Silva de Oliveira conheceu as obras de Antonio Peticov nas aulas de artes e matemática da escola municipal Padre José Francisco Bertero, em Criciúma
A estudante é uma adolescente de 14 anos que sempre contou com o apoio da família para superar suas dificuldades devido à dislexia, ao Transtorno Opositivo Desafiador e ao Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade. O artista acabou de completar 78 anos, viveu por três décadas no exterior e atualmente mora no Bairro Sumaré, em São Paulo. Em comum eles têm a paixão pela pintura.
Peticov é um renomado artista brasileiro que trabalha com pintura, desenho, gravura, escultura e ilustração. Ele criou capas de discos, uma obra famosa que homenageia Oswald de Andrade no metrô da capital paulista e fez aproximadamente 1500 telas e 800 desenhos importantes. Ana Clara tem espírito criativo, já inventou pulseiras, colares, brincos, roupas e brinquedos com sucata.
Ela sempre está com um bloco de folhas e lápis para desenhar posicionados sobre a carteira escolar. Usando tinta de tecido, ela desenhou o monte Fuji que fica no Japão e o Monte Roraima que está localizado na divisa do Brasil com a Colômbia e a Venezuela. Também representou o Corcovado, do Rio de Janeiro, e o monte
Everest que está na fronteira do Nepal com o Tibet. “Estes quadros foram solicitados por nós. Aproveitamos o talento da nossa aluna para presentear os convidados que aceitaram colaborar com nosso projeto falando sobre as experiências com montanhas, cânions, cachoeiras e com estes montes. Vamos fechar o semestre com esta atividade”, informou a diretora Ana Paula Trombim.
As professoras Ana Lúcia Pintro e Evelyn Pereira Gomes de Sá trabalham juntas num projeto que explora os quadros de Peticov que fazem parte da exposição “Montanhas Sagradas e Transcendências”. As telas pintadas respeitam as dimensões do retângulo de ouro e suas medidas foram estudadas nas aulas de matemática. Sob a orientação da professora de artes, usando papel e tinta guache, os estudantes reproduziram algumas obras de Peticov.
O artista disse que se sente lisonjeado com o trabalho feito por Ana Clara e que adoraria recebê-la em seu estúdio. “Eu diria a ela o mesmo que os grandes mestres, a quem eu mostrava os meus insipientes trabalhos na adolescência, diziam para mim. Trabalhe, trabalhe, trabalhe! Vocação a gente descobre, mas talento a gente desenvolve”.
Nesta sexta-feira, dia 12, quatro palestrantes irão falar sobre suas experiências com as montanhas pintadas por Peticov e sobre as principais trilhas da região sul catarinense. Os convidados Élio Wesller e Adalto Furlaneto, do Grupo Sintonia com a Natureza, têm como tema principal apresentar os desafios que superaram para chegar ao Monte Roraima. A professora Rose Reynaud viajou onze vezes para o Japão e em todas elas visitou o Monte Fuji.
O ex-professor de Educação Física, Manoel Rabelo, depois de aposentado andou pelas terras da Argentina, Paraguai, Bolívia e Peru. “Este momento será especial para que nossos alunos conheçam mais sobre estes montes famosos ouvindo as histórias de pessoas que já estiveram nesses lugares lindos e famosos. Os alunos do 9º Ano, estão concluindo um trabalho de pesquisa e reproduzindo lugares como os Dois Dedos, em Treviso, a Pedra Furada, em Orleans, e a Trilha do Rio do Boi, em Praia Grande”, informou a professora Evelyn.
Lucilene Souza Silva, mãe de Ana Clara, lembrou da trajetória da filha desde quando começou a frequentar a Educação Infantil e a apresentar dificuldades nas atividades escolares. Por isso, procurou a ajuda de um neuropediatra.
Iniciaram as avaliações e intervenções, com o apoio de uma fonoaudióloga, uma psicopedagoga e uma psicóloga. “A partir daí, começamos uma longa e difícil jornada de aceitação e evolução, exigindo muita dedicação e tempo para auxiliar no desenvolvimento de Ana. O nascimento do irmão e a pandemia foram momentos complicados. Foi uma batalha com escola, com professores, com a sociedade que exclui tudo, todo tempo, seja uma deficiência física ou intelectual”, comentou a mãe.
Segundo Lucilene, o desenho é a válvula de escape de Ana Clara que prefere mais ficar isolada desenhando do que convivendo com outras pessoas onde ela é julgada e não é compreendida. “É muito gratificante ver a minha menina doce e gentil se tornar essa adolescente de personalidade forte, talentosa, com muita garra e muita determinação. Quando quer, passa pelas limitações e faz bem feito. Sinto muito orgulho da filha que eu tenho. Em nove anos, esta é a primeira vez que ela está se sentindo incluída na escola”, frisou Lucilene.
Saiba mais sobre Antonio Peticov
Antônio Peticov nasceu em 1946 em Assis, na divisa de São Paulo com o Paraná. Atualmente, mora no Bairro Sumaré, na capital de São Paulo. Entre os anos de 1970 e 1999, viveu em Londres, Milão e Nova Iorque, ampliando seus estudos e carreira.
Sua obra é reconhecida internacionalmente, difundida por capas de discos, livros e exposições. Suas criações são ricas em padrões geométricos, formas e cores vibrantes. As cores do espectro solar são referências para seu processo criativo.
Autodidata, desenvolveu seu interesse pelas artes desde a adolescência, especializando-se em Geometria Sagrada e na Seção Áurea. Ele usa a sessão área na formatação da tela, serve como um guia onde ele estrutura seu trabalho. Para ele a Arte é a transformação do ordinário no extraordinário e a matemática é a maneira do ordinário explicar o extraordinário.
Durante sua carreira, Peticov produziu um grande número de obras, incluindo 1462 telas e 800 desenhos até o ano de 2021.
Ana Lúcia Pintro
Professora Matemática (Criciúma e Cocal do Sul)
Acadêmica de Jornalismo (SATC)




